O tempo tem um peso implacável no processo penal.
Um processo que demora demais não é neutro. Ele pune, desgasta, silencia.
Transforma acusados em culpados presumidos e suspeitas em sentenças invisíveis — tudo isso sem que haja, de fato, uma decisão judicial final.
A lentidão como pena oculta
Enquanto o processo se arrasta, vidas ficam suspensas.
Pessoas perdem empregos, famílias se desfazem, reputações são esmagadas.
E mesmo quando, anos depois, vem a absolvição, o dano já está feito — e, muitas vezes, irreparável.
Nesse contexto, a morosidade do sistema não é apenas um problema administrativo.
É uma forma disfarçada de punição. E uma violação grave da dignidade da pessoa humana.
O direito ao tempo justo
A Constituição garante o direito ao devido processo legal.
Mas esse direito não é apenas sobre formas processuais. É também sobre tempo razoável.
Justiça tardia não é justiça — é sofrimento sem nome, é culpa por inércia.
Como nos lembra o Eclesiastes, “para tudo há um tempo” — inclusive para julgar, com responsabilidade e celeridade, aquele que está sob acusação.
O papel da defesa: proteger o tempo da Justiça
Cabe à defesa, muitas vezes solitária, apontar essas distorções.
Mostrar que não se pode normalizar um sistema onde a espera se transforma em pena.
Defender alguém, nesse cenário, é também defender o valor do tempo justo — e o direito de todo ser humano a não viver indefinidamente sob a sombra da dúvida.
Justiça não é só condenar. É decidir.
Um Estado que prende preventivamente por anos, sem sentença.
Um sistema que julga em décadas, quando já não há mais prova viva.
Um processo que engole a juventude de uns e a dignidade de outros.
Isso tudo precisa ser nomeado: não é Justiça. É abandono.
Conclusão: o tempo da Justiça deve ser o tempo da dignidade
Julgar com responsabilidade inclui respeitar o tempo das pessoas.
Agir com rapidez, sem atropelar garantias, é possível. É necessário.
E é um compromisso ético com a sociedade e com o ser humano.
Porque justiça fora do tempo, ainda que revestida de legalidade, é injustiça.
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