Em 2024, a crescente atuação de grupos evangélicos em universidades tem gerado debates sobre a influência da religião no ambiente acadêmico. A estratégia, que visa expandir a fé e valores religiosos nos campi, é vista por alguns como uma “batalha espiritual” em espaços de disputa simbólica e política.
O pastor André Valadão, da Igreja Batista da Lagoinha, chegou a sugerir que pais cristãos evitassem matricular seus filhos em universidades, alertando para os riscos de perdição e desvio dos valores familiares. Em contrapartida, outras entidades religiosas defendem a importância de ocupar os espaços universitários para a evangelização e conversão de novos membros.
O Aviva Universitário, liderado por Lucas Teodoro, é um dos grupos que tem ganhado destaque nas redes sociais por promover eventos em universidades públicas, como USP, UFRJ e Uerj. Em agosto, Teodoro discursou na Uerj, incentivando os estudantes a fazer a diferença em todos os lugares. O grupo também realizou ações na Universidade Federal do Pará, reunindo multidões em busca da palavra de Deus. Segundo Lucas, o objetivo é oferecer apoio espiritual a alunos que enfrentam problemas como depressão e ansiedade.
A presença dessas missões evangelizadoras nos campi tem gerado controvérsias e polarização. O Aviva Universitário, por exemplo, foi impedido de realizar um evento na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o que gerou protestos de diversas igrejas, incluindo a Unigrejas, braço institucional da Universal do Reino de Deus. O bispo Celso Rebequi, presidente da Unigrejas, defendeu o direito ao proselitismo em um Estado laico colaborativo.
A reitora da UFRGS, Marcia Barbosa, esclareceu que a universidade exige que todos os grupos, inclusive os religiosos, sigam um protocolo para garantir a segurança das pessoas e do patrimônio público. As regras exigem vinculação a uma unidade ou projeto acadêmico, para que haja responsáveis por eventuais incidentes.
Jossy Soares, do Ministério Universitário Chi Alpha Brasil, ligado à Assembleia de Deus, concorda com o diagnóstico de que o campus nem sempre é acolhedor para a juventude cristã. Ele alega que há resistência a tudo o que se relaciona com Cristo, especialmente a uma interpretação bíblica mais conservadora.
Para Liniker Xavier, doutor em ciências da religião, o crescimento evangélico no país impulsionou a necessidade de ocupar novos espaços de sociabilidade, como as universidades. Ele ressalta que há tensões entre esses grupos e o espaço universitário, especialmente em cursos das ciências humanas, onde alguns setores acadêmicos veem essas missões como uma tentativa de evangelização em um ambiente que deveria preservar o pluralismo.
Xavier também aponta que a retórica da perseguição pode ser utilizada para mobilizar o imaginário religioso de guerra espiritual, criando a ideia de que a juventude cristã estaria se expondo a um ambiente hostil ao ingressar na universidade. Além disso, ele observa que as redes evangélicas conseguem atrair jovens que não possuem filiação religiosa definida, oferecendo-lhes a oportunidade de vestir a camisa de um “time” ideológico.
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