Lucas 15.8–10
“Ou, qual é a mulher que, possuindo dez dracmas e, perdendo uma delas, não acende uma candeia, varre a casa e procura atentamente até encontrá-la? E quando a encontra, reúne suas amigas e vizinhas e diz: ‘Alegrem-se comigo, pois encontrei minha moeda perdida’. Eu lhes digo que, da mesma forma, há alegria na presença dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende.”
A parábola da dracma perdida é uma das mais profundas expressões do Evangelho de Lucas. Diferente da ovelha perdida, que se extravia do redil, ou do filho pródigo, que abandona voluntariamente a casa do pai, aqui o objeto perdido continua dentro da casa. O drama, portanto, não é de afastamento, mas de distração. A perda não é geográfica — é espiritual.
A mulher da parábola representa a diligência do Espírito Santo em sua missão de iluminar, varrer e restaurar o que se perdeu entre as rotinas religiosas e os descuidos da alma. Quantos, hoje, estão dentro da casa de Deus, mas perderam o brilho da sua dracma? Continuam servindo, participando e se envolvendo em atividades, mas a luz interior se apagou.
A CASA APOSTÓLICA E O VALOR DAS DRACMAS
Uma Casa Apostólica é um ambiente espiritual onde Cristo é o centro, o Espírito Santo tem liberdade e o propósito de Deus é levado a sério.
“Pois ninguém pode colocar outro alicerce além do que já está posto, que é Jesus Cristo.” (1 Coríntios 3.11)
“Onde está o Espírito do Senhor, ali há liberdade.” (2 Coríntios 3.17)
Ela não existe para ser mais uma estrutura religiosa, mas para cumprir o papel de família espiritual que manifesta o Reino de Deus na Terra com autoridade, estrutura e envio.
“Assim, já não sois estrangeiros, mas concidadãos dos santos e membros da família de Deus.” (Efésios 2.19)
“Ide e fazei discípulos de todas as nações.” (Mateus 28.19)
Numa Casa Apostólica, ninguém é apenas cuidado — é ativado.
“A fim de preparar os santos para a obra do ministério.” (Efésios 4.12)
“Aviva a chama do dom de Deus que há em ti.” (2 Timóteo 1.6)
A diferença entre uma casa comum e uma casa apostólica está na intencionalidade do propósito: não se forma dependentes, mas líderes; não se retém, mas se envia; não se entretém, mas se treina. A dracma perdida dentro da casa é o símbolo de uma unção esquecida, um chamado negligenciado, uma aliança que perdeu o brilho. É tempo de varrer o chão da alma e reencontrar o que Deus confiou a nós.
O VALOR HISTÓRICO DA DRACMA
A dracma era uma moeda de prata grega, pesando entre 3,4 e 4,3 gramas de prata pura. No contexto romano, equivalia aproximadamente ao denário — o salário diário de um trabalhador braçal.
Segundo Ralph Gower, em The New Manners and Customs of Bible Times (p.247):
“A dracma equivalia a um denário romano e representava um dia justo de trabalho de um lavrador.”
Craig S. Keener, em The IVP Bible Background Commentary: New Testament, acrescenta:
“A dracma em Lucas 15 tinha o valor aproximado do salário diário de um trabalhador rural — uma quantia significativa para uma família camponesa.”
Em valores atuais, poderíamos compará-la a algo entre R$ 80 e R$ 150, o que mostra que sua perda não era irrelevante, especialmente para famílias simples. Mas o valor da dracma vai além do aspecto econômico — ele é simbólico.
O VALOR SIMBÓLICO E EMOCIONAL
Na Palestina do primeiro século, mulheres casadas recebiam dez moedas de prata como presente de casamento. Essas moedas eram costuradas em um adorno de cabeça chamado semedi ou headdress, representando a fidelidade e o compromisso da esposa com o marido.
Perder uma dessas moedas significava mais do que prejuízo financeiro — era um golpe na honra e na identidade conjugal.
Henri Daniel-Rops, em Daily Life in the Time of Jesus (p.172–174), explica:
“Entre as mulheres judias mais pobres, era comum costurar dez moedas de prata em um adorno usado no casamento… perder uma delas era motivo de profunda angústia, como se houvesse sido rompido o pacto de fidelidade.”
A historiadora Lynn H. Cohick, em Women in the World of the Earliest Christians (p.128), reforça:
“O adorno de dez moedas servia tanto como ornamento quanto como segurança. Uma moeda perdida simbolizava a quebra simbólica da aliança — algo que envergonhava toda a casa.”
Quando Jesus usa essa parábola, Ele fala de algo sagrado: um símbolo de aliança ferida. Assim também acontece com muitos cristãos: não deixaram a igreja, mas perderam algo dentro dela — o zelo, a paixão, o senso de propósito, o brilho da fé. Estão dentro, mas ausentes; presentes, mas distantes do altar interior.
O TEMPO COMO A DRACMA DA VIDA
Se a dracma na parábola simboliza valor, talvez o equivalente mais próximo em nossos dias seja o tempo. O tempo é a dracma que muitos estão perdendo dentro da casa.
Refletindo matematicamente:
- Uma hora tem 60 minutos.
- Uma semana, 168 horas.
- Um ano, 8.760 horas.
- Uma vida média de 70 anos representa 613.200 horas.
Desse total, cerca de 20 anos são gastos dormindo, 15 anos na infância e 5 anos em declínio de saúde. Restam cerca de 262 mil horas realmente úteis para cumprir o propósito de Deus.
Quantas dessas horas são investidas na busca daquilo que realmente se perdeu? Quantas são desperdiçadas varrendo o que não tem valor, enquanto a dracma verdadeira — o dom, o chamado, a presença — permanece coberta pelo pó da distração?
O APELO DO ESPÍRITO
Hoje, o Espírito Santo convida a Igreja a reacender a candeia e varrer a casa. Há dracmas que rolaram para baixo de mesas, outras escondidas sob tapetes de desculpas, e algumas encobertas por tradições humanas. Mas Ele continua buscando, com amor e zelo, o que é dEle.
“Há alegria na presença dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende.” (Lucas 15.10)
Essa alegria não é apenas pelo que volta de fora, mas também pelo que é restaurado dentro.
Renove sua aliança com Deus hoje. Permita que Ele limpe o pó das distrações e reacenda em você a chama da vocação. O Reino de Deus não consiste em palavras, mas em poder (1 Coríntios 4.20).
Você quer ser contado entre os que vivem a plenitude da aliança, ou continuará sendo apenas mais uma dracma perdida dentro da casa?
Dr. Mario Alberto Nuntius
Coordenador Acadêmico da UCLA – Universidade Cristã de Conhecimento e Liderança Avançada
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